
O Taichi Chuan é uma das artes marciais internas chinesas, através da qual mente e corpo se unem no treinamento. Seu objetivo é a autorrealização e a conexão com a Natureza. Recentemente a Organização Mundial de Saúde e o Colégio Americano de Ciências do Esporte divulgaram pareceres indicando o Taichi como a prática de atividades físicas ideal para pessoas com mais de 50 anos. Na China é praticado ostensivamente por crianças, jovens, adultos e idosos de ambos os sexos.
Tai Ji Quan é uma arte marcial interna chinesa (Nei jia) e seu nome remete a um conceito fundamental da Filosofia Taoísta. A primeira palavra (Tai Ji) remete ao “Altíssimo”, a ideia da tradição espiritual onde se compara o mais elevado estágio de expansão e desenvolvimento da Consciência e o comparamos ao alto ou ao cume de uma montanha. Essa montanha é a representação simbólica da jornada de desenvolvimento pessoal trilhada por cada buscador. A segunda palavra que compõe o nome (Quan) significa “Punho”, e é amplamente empregada nas artes marciais chinesas para referir uma técnica que não utiliza armas. Tai Ji Quan, portanto, é a arte marcial que pretende auxiliar o praticante em sua jornada espiritual, através do treinamento prático. A diferença entre os vários tipos de técnicas de combate é que nas artes marciais internas o objetivo final é a civilidade, formação do caráter e desenvolvimento psico-espiritual de seus praticantes. Ou seja, a coisa mais importante está em respeitar, ser cordial e um incansável escultor de si mesmo, como premissa para se aprender as técnicas e se conectar com a Natureza.
No Tai Ji Quan aprende-se o uso do corpo inteiro. Se alguém tenta mover as pernas comandando os quadris e coxas, mas negligencia o uso dos pés, não sentirá a conexão de uma técnica executada com o corpo todo. Se você não puder controlar seu próprio corpo da ponta do dedo do pé até o topo da cabeça, não poderá sentir sua capacidade total e a força gerada pelo corpo todo trabalhando em conjunto. Sem desenvolver esse trabalho conjunto, mesmo exercícios básicos como o de “push hands” (tui shou) ou a “luta combinada” (da lu) serão ineficientes. Esses exercícios dão consciência corporal e ajudam no desenvolvimento adequado.
Conhecer a si mesmo, não apenas treinamento técnico, é premissa essencial de aprendizagem. Autoconhecimento é a oportunidade para fazer crescer seu próprio Tai Ji. Neste sentido, independente da força física, das habilidades naturais, do sexo e da idade, as portas se abrem para todos que querem aprender. Quando começar a treinar Tai Ji, você terá de levá-lo para sua vida diária. No Wu-guan (local de prática) você aprende a conviver em harmonia e respeito. Você deve levar o respeito para tudo, pois Tai Ji reflete a harmonia que existe na Natureza. Desenvolver o caráter também é uma forma de respeitar os outros, aceitando as diferenças e colocando presença nos treinamentos, para que todos possam alcançar patamares mais altos de habilidade. Isso acontece quando todos dão o seu melhor e cooperam com o crescimento um do outro. Isso também é respeito. Iniciar o treinamento é separar um momento do seu dia para o seu crescimento de vida. Lembre da imagem do bambu que resiste mesmo à neve. Você deve ser disciplinado e reservar o tempo para suas sessões de treinamento. É claro que se deve programar um horário do dia em sua agenda para isso. O ideal é treinar diariamente, mas aqueles que não têm essa disponibilidade podem se programar para estarem sempre presentes nos dias em que marcam suas aulas no clube ou academia. Vivemos numa era de informatização. Tudo está ao nosso alcance, mas acabamos deixando a nós mesmos de lado. Sentimos-nos vivos e acessamos muita informação ao mesmo tempo que somos pressionados e às vezes espremidos. Os taoístas acreditam que através da força de vontade podemos nos dedicar também ao auto-cuidado e colher os frutos dessa dedicação.
A prática tradicional do Tai Ji Quan envolve exercícios considerados seus três pilares, chamados “Passos Básicos” (Ji Ben Gong – fundamentos), “Rotinas” (Taolu – exercícios formais) e “Push Hands” (Tui Shou – espécie de luta usando os refinados fundamentos do Tai Ji). Ainda fazem parte do rol de ferramentas de ensino e treinamento os exercícios meditação em pé (Zhan Zhuang), Exercício Bioenergético (Qi Gong) e o trabalho em duplas de luta combinada (Da Lu) e, nos estágios mais avançados, a luta livre (San Shou).
Os exercícios fundamentais, ou Ji Ben Gong, têm como objetivo ajudar o praticante a aprender as técnicas básicas e a controlar o próprio corpo. É dito que somente em tempos recentes houve o desenvolvimento dos “passos básicos”. Em tempos antigos, praticava-se apenas os Taolu. Atualmente pratica-se no Shinjigenkan vários exercícios de Passos Básicos e Chansijin (energia em espiral) que ajudam a desenvolver as habilidades necessárias ao estilo Chen (escola mais antiga de Tai Ji Quan) além dos fundamentos básicos que já se praticava do estilo Yang.
Sendo assim, a execução dos fundamentos trabalha as habilidades de técnicas de mãos (Shoufa), além das técnicas do corpo (Shenfa) e habilidades de movimentação e trabalho de pés (Bufa). Após o aprendizado das posturas estáticas se passa ao aprendizado dessas habilidades em movimento, conhecido como “Passos Básicos”.
Os Taolu são rotinas que agrupam as técnicas aprendidas nos passos básicos e as estruturam numa ordem que cria benefícios terapêuticos e de desenvolvimento. Apesar de não ser o objetivo principal, podem também descrever a luta simbólica contra vários adversários. A origem desses exercícios remete às origens das artes marciais chinesas, quando os guerreiros as usavam para o treinamento de combate. Aquelas artes marciais mais pobres, geralmente artes externas (wai jia) simples e usadas para treinar soldados, possuíam muitas rotinas que serviam para simular várias situações de combate real. Já as artes mais refinadas, como o Tai Ji Quan possuem poucas rotinas (originalmente cada estilo possuía entre uma e três rotinas apenas), contrastando significativamente com as artes externas.
Sendo assim, a execução de um Taolu contém não apenas as técnicas de combate e a história de como um estilo se desenvolveu, mas essencialmente foi desenhada para circular de forma adequada e potente a energia de seus praticantes, promovendo cura e fortalecimento. Entende-se que um corpo bem desenvolvido e um Qi (energia vital) poderosos são as “armas” necessárias para o crescimento pessoal e, em casos extremos, para a autodefesa. Confira abaixo a lista de rotinas básicas e exercícios praticados no Shinjigenkan:
Lam Kam Chueh Tai Ji Quan | |
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Yang Shi Tai Ji Quan | |
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Chen Shi Tai Ji Quan | |
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Tai Ji Qi Gong | |
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Há diversas formas de luta combinada no Tai Ji Quan, em que o praticante vai adquirindo as habilidades básicas de movimentação, esquiva, defesa, ataque e contra-ataque. Após o estágio de “push hands” (tui shou), realiza-se uma luta combinada (da lu) e por fim, a luta livre (san shou).
A prática de tui shou mais básica é o “círculo horizontal”, no qual um praticante empurra o outro, que transforma o empurrão e o empurra de volta. Nessa prática inicia-se o conhecimento das duas energias básicas chamadas de “Aderir e Colar” (Zhan Nian Jin). Nessa fase aprende-se a manter o contato e a receptividade, além de aprender a seguir o ritmo do outro, iniciando um processo que se amplia para a capacidade de “ouvir” tudo na Natureza.
Após o estágio mais básico do círculo horizontal e outros fundamentos simples, é realizado o treinamento de “push hands” das quatro energias (ou quatro lados), também conhecidas como “peng lü ji an” que representam as forças naturais do céu, da terra, da água e do fogo. Nesse exercício um praticante “ataca” com uma postura cinética baseada em uma dessas forças naturais e o outro “defende” e contra-ataca imediatamente, da forma mais natural possível, neutralizando a “energia” usada pelo parceiro e aplicando nele outra postura cinética. Após esse estágio é introduzido o uso das posturas cinéticas dos “quatro cantos” ), também conhecidas como “cai lie zhou kao” que representam as forças naturais do raio, do vento, do lago e da montanha. Ao final desse treinamento o praticante dominou as capacidades de neutralizar e emitir usando as oito posturas cinéticas e passa a formas mais complexas de treinamento.
Na arte marcial interna existe o conceito de “unir interno e externo” (nei wai he yi), que significava unir sua mente e seu corpo, como também unir sua individualidade à toda Natureza. Dois praticantes experientes podem treinar o Tui Shou por horas sem que nenhum deles apresente brechas na aplicação de seus fundamentos. É como uma dança que transparece a conexão com o fluxo natural e a impermanência. É um dos elementos que torna belíssima a disputa entre dois lutadores habilidosos e a prova da importância de se praticar em dupla para compreender o Tai Ji Quan por completo.
As origens do Tai Ji Quan (Tai Chi Chuan – 太極拳) e do Qi Gong (Chi Kung – 氣功) praticados no Shinjigenkan podem ser rastreadas desde os passos de dois grandes predecessores. Primeiramente identificamos o patriarca do estilo Chen, Chen Xiao Wang, que liderou o grande processo de popularização do Tai Ji Quan tradicional para o mundo, ensinando instrutores de todo o Planeta e criando rotinas simplificadas para que a prática alcançasse todos os praticantes. O estilo Chen, forma original do Tai Ji Quan que depois se ramificou em vários outros estilos (como Yang, Wu, Sun, etc), reproduz com sensibilidade, beleza e poder os conhecimentos da Filosofia Taoísta.
A Filosofia Taoísta teve sua máxima expressão no desenvolvimento da série de práticas meditativas e bioenergéticas conhecidas como Alquimia Interna Taoísta. Como resultado da revolução maoista na China, muitos mestres de artes marciais e tradições espirituais foram expulsos e perseguidos. Entre estes estavam professores e familiares de Mantak Chia. Esses mestres acabaram se exilando e radicando em outros países da Ásia como Taiwan, Vietnam, Tailândia, entre outros. O Mestre Mantak Chia, levado por seus pais para a Tailândia ainda criança, foi educado nos antigos mistérios do conhecimento da Natureza e da meditação, tornando-se o vetor da transmissão dos conhecimentos da Alquimia Taoísta para o Ocidente. Os conhecimentos que durante milênios ficaram restritos ao Oriente foram aos poucos popularizados pelo Universal Healing Tao Foundation, organização do Mestre Chia, que hoje tem representantes e instrutores em todo Planeta.
No Brasil, o espírito da Alquimia Interna Taoísta foi difundido pela Mestra Ely Amorim de Britto, uma estudiosa do Yi Jing (I-Ching) famosa internacionalmente que viveu um período no Tao Garden do Mestre Mantak, na Tailândia. Fundadora da Ecovila “Viver Simples / Tao das Artes” e do “InterTao – Instituto de Práticas Taoístas” (com sede em Minas Gerais), Ely ensinou mais de quinze mil pessoas em todo país. Entre estes, o professor Tiago Frosi foi instruído diretamente pela Mestra desde 2006.
Instrutor Chefe (首席師範) do Instituto Shinjigenkan, o professor Tiago vem se dedicando à pesquisa, ensino e desenvolvimento de artes como Karate-Do, Tai Ji Quan, Qi Gong e outras há quase vinte anos. Já ensinou os mais diversos tipos de públicos, desde crianças, jovens, adultos e anciões, de esportistas e agentes de saúde a policiais e buscadores da Espiritualidade. Ensina na UFRGS, Unipaz e na sede do Instituto Shinjigenkan em Porto Alegre.
Venha conhecer a nova sede do Instituto Shinjigenkan, na Avenida Protásio Alves, 1729, bairro Petrópolis, Porto Alegre/RS